segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre derrotas e vitórias [diário]

Sexta-feira, 22 de outubro de 2010.

Antes de partirmos rumo a Campinas, onde faríamos a prova da etapa final da 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil, recebemos um abraço e boa sorte dos alunos, dos professores e do mantenedor do nosso colégio. Em meio a tantas palavras carinhosas de meus alunos, não vou esquecer o que uma aluna do 6º ano me disse: “quando eu for maior, eu também vou para a final da Olimpíada, professor”. Nesse momento, começaram as nossas vitórias.

Partimos por volta das 14:30. Depois de, aproximadamente, uma hora e vinte minutos de viagem tranquila e sem nenhum contratempo, chegamos ao Hotel Opala, em Campinas.

Na recepção do hotel, os alunos que participaram dessa etapa da Olimpíada pela primeira vez, notaram a diversidade dos participantes desse evento. À nossa frente, equipes da Bahia, com sua professora orientadora, davam entrada no hotel. E uma coisa que já havíamos notado na edição passada, se confirmou. O povo do nordeste é muito simpático. Eles se apresentaram e se interessaram em saber de que lugar nós éramos.

Depois de acomodados e com as malas desfeitas, saímos para comer alguma coisa. Durante o tempo em que estivemos no shopping, fiquei muito contente em ver a amizade sincera que os amigos de sala demonstraram à nossa equipe. Ligaram mais de uma vez para desejar boa sorte e declarar o orgulho que sentiam em serem representados pela equipe. Que prêmio poder contar com amigos desse tipo!

De volta ao hotel, o P2 (Felippe) aproveitou para tirar algumas dúvidas sobre o texto que seria usado na prova do dia seguinte.

Sábado, 23 de outubro de 2010.

Acordamos cedo. Às 06:00 já estávamos de pé. Às 06:30 estávamos indo tomar o café da manhã. No restaurante do hotel, muitas equipes já ocupavam as mesas. Alunos de colégios militares, vestidos com suas fardas, destacavam-se em meio aos alunos civis; alunos e professores de dreadlocks formavam uma equipe com um visual particular; sotaques mudavam de mesa em mesa.

Chegamos à Unicamp antes das 08:00. Os alunos teriam que entrar nas salas, no máximo, às 08:30. Tive que ficar numa fila para a entrega de documentos, então, diferente do ano passado, que acompanhei os alunos até as salas, me despedi deles no térreo e desejei boa sorte. Terminada a parte burocrática, os professores orientadores foram para um auditório onde participariam de um ciclo de palestras.

Depois das excelentes palestras, os colegas professores colocaram suas experiências, dificuldades e histórias de superação para levar suas equipes dos cantos mais remotos do nosso país. Foi possível fazer um mapa do ensino de História no país, compartilhar experiências e dificuldades. No término, antes de irmos ao encontro dos alunos, o bate-papo informal com os professores foi outra experiência marcante que carrego desse momento.

Quando eu voltava para o local da prova, recebi um telefonema do Matheus Lima, ex-aluno do nosso colégio, medalhista dessa mesma olimpíada e atualmente aluno da Unicamp. Ele ficou de nos encontrar no campus.

Recebi os alunos e foi ótimo ver a alegria e a confiança que sentiam. Fizeram a prova com tranquilidade, e eu tinha a certeza de que eles tinham dado o seu melhor. Vê-los felizes depois de uma prova como aquela era a certeza de que, independente de medalhas, eles haviam aprendido muito, principalmente a agirem com a tranquilidade necessária em momentos como esse, ainda mais quando duas alunas da equipe, em breve, estarão passando pelo vestibular.

Encontramos o Lima em frente ao prédio da Biblioteca Central da Unicamp. Como é bom reencontrar amigos!

Ele nos levou para um breve passeio pela Unicamp. Passamos por uma rádio que transmitia a programação ao vivo de dentro de uma torre. A entrada da rádio tinha um grafite e a porta era a boca de um homem; lá de dentro da rádio, víamos um luminoso branco, em que estava escrito em letras vermelhas: NO AR. Em frente à radio, ao ar livre, havia um teatro de arena todo grafitado, em que se lia DESOBEDEÇA. O Lima nos contou que os alunos do curso de Filosofia estavam em luta contra a Unicamp para conseguirem realizar um evento que já era tradição do curso e que a universidade havia proibido.

Contornamos uma enorme fonte vazia e chegamos ao prédio da Física. O Lima nos mostrou as salas, diferentes das tradicionais salas retangulares, essas eram semicirculares. Em seguida, por indicação dele, fomos almoçar em um restaurante com uma decoração que lembra um pub. O curioso é que o teto do restaurante era uma ferrovia em miniatura, em que passava um trenzinho.











De volta à Unicamp, tiramos um cochilo embaixo do prédio da Biblioteca Central, onde, horas atrás, um grupo ensaiava uma coreografia com espadas de madeira. Às 14:30 fomos para o Ginásio, onde os 900 alunos finalistas tiveram uma atividade de dança para se conhecerem e interagirem. Em seguida, assistimos ao show da banda Lester Bangs, que contou a História do Rock começando com músicas da década de 1950 e encerrando com sucessos atuais do rock, como The Killers. Não sei as meninas, mas eu e o P2 achamos os caras muito bons.

Enquanto rolava o show, o Matheus participou de uma reunião do Movimento Zeitgeist, do qual ele é integrante. Terminados os eventos, fomos todos para o Mc Donald’s. Em seguida, deixamos o Lima na Unicamp. Foi muito bom reencontrá-lo.

Cansados, fomos direto para o Hotel. Eu e o P2 ainda assistimos As Branquelas, demos algumas risadas e conversamos bastante. O meu companheiro de quarto tem como qualidade o bom humor e o gosto por um bom papo. Foi muito legal dividir o quarto com ele.

Domingo, 24 de outubro de 2010.

Acordamos às 06:30 e creio que todos nós fomos tomados pela ansiedade. O momento de sabermos o resultado estava próximo. Deixamos o hotel já com as malas. Tomamos o café da manhã em uma padaria a caminho da Unicamp.

O ginásio, onde seria feita a entrega das medalhas, estava lotado. Uma média de 1200 pessoas preenchiam a arquibancada de frente para o palco onde estava composta a mesa das autoridades presentes. Entre elas, não podia deixar de destacar o professor Dr. Edgar de Decca, um dos maiores historiadores vivos de nossa história. Outra presença marcante foi a do professor Dr. Durval Muniz de Albuquerque Junior, presidente da Associação Nacional dos Profissionais de História e um grande humanista.

Depois das palavras carinhosas de cada integrante da mesa, começou a entrega das medalhas e torcemos todas as vezes que chamavam uma equipe do estado de São Paulo, na esperança de que a nossa fosse uma delas. Confiantes, estávamos com o grito contido, aguardando alguém, quem sabe, falar o nome do nosso município. Não aconteceu. A entrega acabou e o grito contido virou lágrima no rosto da Isabela e da Dani. O matemático responsável pelo sistema de pontuação da Olimpíada, carinhosamente se aproximou das duas, deu um abraço nelas e disse que tinham que chorar, porque isso era a prova de que tinha valido a pena e tinha sido marcante na vida delas. Uma professora de outra equipe também veio dividir esse momento com a gente, parabenizando cada um dos nossos alunos. Para mim, só restou dizer que isso é a vida. E que o sabor da vitória é apreciado na sua plenitude quando conhecemos o sabor, às vezes amargo, da derrota. Para a Isabela, eu disse que a alegria que ela sentiu ano passado, ao ganhar uma medalha de prata, esse ano foi concedida a um estudante de outro colégio... Voltamos para a casa não com a medalha que nossos alunos sonharam ganhar, mas com tantas outras conquistas.

Segunda-feira, 25 de outubro de 2010.

P2, Isabela e Dani,

Em um país, onde a educação sempre esteve em segundo plano, disciplinas como História foram marginalizadas, receberam cargas horárias ínfimas e tiveram o seu papel de ciência e o rigor metodológico reduzido, por ignorância, à “decoreba”. Os alunos, no passado, dificilmente eram tratados como agentes históricos e o que estudavam não passava de uma sucessão de fatos provocados por camadas muito bem definidas da nossa sociedade. Isso está acabando. E vocês fazem parte desse processo.

É um orgulho para mim, como professor, ver meus três alunos serem finalistas de uma Olimpíada onde participaram 43.000 pessoas; minha equipe se destacar em meio às mais de 17.000 que participaram; meus alunos que não participaram darem o apoio que muitos outros não receberam nem de seus familiares; o colégio em que vocês estudam acreditar na formação de um ser humano integral, pleno para ser um cidadão consciente; a disciplina que eu leciono, a História, ser passada para uma geração tão capaz de compreender para o que serve a História, e como ela pode ser transformadora; e, por último e mais importante, por ter visto vocês crescerem ao terem que conviver com a derrota e com as sucessivas vitórias.

Existem vitórias que são derrotas. Imaginem vencer sem ter a total convicção de que o melhor foi feito; imaginem vencer depois de fazer uma prova que pareceu ser um tormento; imaginem vencer e saber que talvez não tenham com quem compartilhar a vitória! Agora, existem derrotas que são vitórias. Vejam as lembranças que carregaram para sempre dessa experiência. Lembrem-se dos telefonemas dos amigos e familiares, provando para vocês que estarão de braços abertos para receberem vocês na volta. São muitos os motivos que eu poderia numerar aqui, mas vocês sabem do que eu estou falando.

Eu só tenho que dizer que foi uma experiência incrível eu ter vivido esse momento ao lado de vocês. PARABÉNS!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Por que pior que tá não fica?

Visitei o blog do meu amigo – uns tragos e uns pensamentos – e achei muito boa a resposta que ele deu para o “pior que tá não fica”, da propaganda eleitoral. Ele postou a música “Burrice”, do álbum Defeito de Fabricação, do Tom Zé:



Pra completar, cabe a música “Politicar”, do mesmo álbum:

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aqui é tudo azul... maravilhoso!

Chegamos a pensar que o Tiririca era o grande protagonista do show de horrores promovido por alguns candidatos nessas eleições. Acreditamos que a quantidade assombrosa de votos que ele recebeu afirmava a nossa incapacidade de escolher um candidato capaz de atender nossos interesses e necessidades. Mas as coisas são ainda piores quando o candidato não está representando, nem assumindo um papel circense. Aqui [no Brasil] é assim: tudo azul... maravilhoso!



A candidata ao governo do DF, Weslian Roriz, do PSC, foi para o segundo turno com 440.128 votos. 31,50% dos habitantes do DF votaram nela. Tsc, tsc, tsc.