quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Os dois lados da mesma tecnologia

Será que toda a parafernália tecnológica que nos rodeia e toma conta de boa parte do nosso tempo, seja em tarefas produtivas, ou não, está nos tornando mais burros, menos críticos e mais alienados? Pergunta parecida a essa foi feita pelo jornalista Christian Carvalho Cruz, do jornal O Estado de S.Paulo, em matéria publicada no suplemento Aliás, dia 27 de setembro. Ele não nos dá a resposta, mas dá indícios de um mundo próximo onde o homem talvez evolua para uma nova fase da humanidade: “Homo sapiens que falam pelos polegares”. Afinal, segundo o seu texto, já existe gente faturando quantias gordas por ter vencido campeonato de quem digita um SMS – mensagens de celular ou, se preferir, torpedos – mais rápido. As justificativas para esse incentivo ao envio de SMS são muitas, desde o custo, que é menor do que uma ligação, até a “praticidade” de se comunicar em locais onde você deveria ficar em silêncio, atento ao que acontece diante de seus olhos – comprovei isso recentemente, quando fui ao teatro assistir uma peça que começava no escuro, no breu total, tendo como única fonte de luz a chama do isqueiro do ator, que acendia um cigarro. No fim da peça, em um bate-papo com o ator, ele se mostrou incomodado com a quantidade de luzes emanadas dos celulares que clareavam o rosto da plateia, prisioneira dos seus telefones. Bem, mas voltando à matéria do Estadão, quando eu a terminei de ler, lembrei de um estudo que foi realizado com jogadores de video game que passam horas apertando botõezinhos de joysticks e, por isso, estavam ficando com os polegares achatados; o que não deixa de ser uma mudança anatômica no processo evolutivo. Além disso, nossos pulmões também estão mais comprimidos, devido a posição em que teclamos, seja nos nossos celulares ou nos nossos teclados, ao conversar através do MSN. Segundo médicos, isso “bloqueia a expansão dos pulmões, afetando a respiração” e, como consequência, “priva o cérebro de oxigênio e pode acabar comprometendo a capacidade de memória e aprendizado”.
Resumindo, ouça seu pai quando ele pede para você desligar o computador, o video game ou reduzir o valor da conta do telefone celular; você está correndo o risco de prejudicar a memória ou a sua capacidade de aprendizado.

Mas será que estamos menos críticos e mais alienados por causa da tecnologia?

Realizei um exercício de imaginação com o 3º ano do Ensino Médio, onde perguntei a eles como reagiriam diante de um novo AI-5 (ato institucional nº 5, que, na época da ditadura militar, fechou o Congresso Nacional, censurou a imprensa, prendeu e torturou jovens opositores do regime político vigente). A maioria respondeu que, diante do chamado Milagre Econômico, ocorrido na época, talvez a geração atual não se importasse em fazer oposição ao governo, já que com acesso ao dinheiro, numa época em que o consumo é apregoado e encarado como requisito para ascensão, tudo estaria dentro dos conformes. Outros disseram que a internet seria um veículo de luta, manifestação etc., já que é possível publicar conteúdo em servidores fora do país. Que percepção, fiquei maravilhado! Exemplo dessa tese levantada pelos alunos é a repercussão dos textos publicados pela cubana Yoani Sánchez, no blog Geração Y, que, inclusive, teve alguns textos escolhidos e publicados num livro (De Cuba, Com Carinho) lançado aqui no Brasil pela Editora Contexto (leia o primeiro capítulo).

A história dessa escritora é interessante, a começar pelo nome. Yoani, com y, é resultado da forte influência soviética na ilha, já que a URSS participou do processo pós-revolucionário cubano, garantindo o regime de Fidel Castro, ameaçado pelos EUA. E, por causa dessa influência, que extrapola as relações políticas e econômicas, infiltrando-se na cultura, houve na ilha uma enxurrada de nomes com y. É por fazer parte dessa geração, desse momento histórico, que escolheu Geração Y para dar nome ao seu blog, onde publica, quase diariamente, textos que relatam sua insatisfação e frustração com o governo cubano, com as condições de vida em seu país, com o descaso e desrespeito internacional. O simples desejo de compartilhar essas inquietações tomou proporções gigantescas. Passou a ser lida pelo mundo todo; publicou em seu blog uma carta aberta ao presidente dos EUA, Barack Obama, e obteve resposta do próprio; como dito acima, publicou um livro aqui no Brasil – mas foi impedida de comparecer ao lançamento, já que desde o caso dos lutadores de boxe cubanos, que não quiseram voltar ao país, estão proibidas viagens para o exterior; organiza palestras para capacitar as pessoas a usarem o computador e, principalmente, a internet, explicando aos interessados como construir e postar textos em blogs. Mas, como era de se esperar, foi vítima de violência praticada por agentes do governo cubano, passou dias andando com o auxílio de muletas e, quando percebeu que era vigiada constantemente por delatores e homens do governo, passou a fotografá-los e publicar seus rostos em seu blog. Eis um exemplo de como a internet pode ser um espaço de resistência, conscientização e luta por direitos, contrariando a ideia de que a rede é mais um veículo alienante.

Também vale lembrar que não é só o cidadão comum que usa a chamada internet 2.0 – essa nova fase da rede onde é o usuário que gera o seu conteúdo (blogs, youtube, twitter, orkut, facebook etc.) – para fazer política. Os governos também a utilizam para reprimir, vigiar e punir os cidadãos que fazem oposição a eles. É o caso de países como a China, que contrata blogueiros – remunerando-os por textos publicados – para manipularem a opinião pública; o Egito, que prende blogueiros e usa os mesmos artifícios do governo chinês; a Rússia, que pretende criar uma Câmara dos Blogueiros, para decidir as normas da blogsfera e, por fim, o Irã, que procurou em páginas de relacionamento como orkut e facebook, fotos de manifestantes que faziam oposição aos governos do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Então, tentando responder a pergunta aí de cima, acho que depende. Podemos perceber a internet como um espaço de conscientização e união para muitas causas justas, assim como podemos ser vítimas da alienação gerada por governos ou por nós mesmos.

Abraços.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Parabéns!!!

A comissão organizadora da I Olimpíada Nacional de História do Brasil antecipou a divulgação dos nomes das equipes finalistas; e é com MUITA alegria que eu informo a todos que uma de nossas equipes foi classificada – e muito bem classificada – para a grande final, que acontecerá nos dias 12 e 13 de dezembro, na Unicamp!

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Queridos alunos,

Vê-los participar dessa Olimpíada foi motivo de orgulho para mim. Não só por terem se destacado em meio a tantos outros participantes de todas as partes do Brasil, mas pela conduta ética e comprometimento de cada um. Lembro-me de ter comentado mais de uma vez com a direção e com meus colegas professores, o fato de nenhum de vocês participarem do blog ou de algum dos fóruns da Olimpíada para ridicularizar outros participantes, atitude que, infelizmente, outros participantes tiveram. Outro problema gerado por boa parte das equipes participantes foi a solicitação de troca de senha, pois integrantes de um mesmo time não confiavam nos próprios parceiros. Nenhum de vocês gerou esse problema, demonstrando assim, a tolerância e a capacidade de cada um em conviver com as diferenças dos outros e as suas próprias limitações. Isso já demonstra o quanto são VENCEDORES, antes mesmo do início da etapa final.

Outro ponto importante que eu não poderia deixar de lado é o fato dessa Olimpíada não se preocupar com o conhecimento factual ou aquele apregoado pela historiografia do vencedor, a chamada História Oficial. Pelo contrário, a Olimpíada privilegiou a Nova História, preocupada em difundir um saber crítico, que leva em consideração todos os grupos e classes envolvidas nos processos históricos. E, para mim, na condição de professor, vê-los pesquisar, compreender e participar com excelência da construção desse novo saber histórico é mais uma vez motivo de orgulho e admiração. É ter a certeza de que vocês irão participar do mundo com todos os pré-requisitos para torná-lo mais justo e perfeito, compreendendo os erros cometidos no passado e, por isso, sugerindo outros rumos individuais e coletivos para que esses erros não se repitam no presente e futuro.

Aos finalistas, integrantes da equipe Pau Brasil [Matheus de Lima Gomes, Isabela Juliani Zanatta e Carolina Maciel de Arruda], PARABÉNS e boa sorte! Mas saibam que já são vencedores. Não só pelos motivos destacados acima, mas por terem a oportunidade de vivenciar uma experiência junto com pessoas de outras partes do país, interagindo com elas e dividindo pontos de vista e visões de mundo. Além disso, a vida universitária de vocês será mais rica depois de uma visita à Unicamp, onde será possível dialogar com mestres, doutores e pessoas responsáveis por interpretar, pesquisar e escrever boa parte da historiografia de qualidade do país. Também quero deixar aqui um parabéns especial ao aluno Matheus Lima que, por ser aluno do 3º ano do Ensino Médio, vai nos deixar no término desse ano. Mas, como todos sabem, é um aluno de uma dedicação e interesse acima do comum. Vencedor não só na sala de aula, mas na vida. Afinal, diante de todas as dificuldades que acompanhamos no decorrer dos últimos anos, se mostrou sempre vitorioso.

Aos integrantes da equipe Raízes do Brasil [Gabriela Goes Parra, Michel Henrique Dib Jorge e Nicolle Amorim da Silva], meus PARABÉNS, porque também são vitoriosos. Como vocês sabem, os três são alunos do 9º, e chegaram até a penúltima etapa da Olimpíada, superando as dificuldades propostas em cada uma das tarefas anteriores. Lembrem-se que a vida escolar de vocês ainda está longe de terminar e, por isso, ter chegado até aqui numa Olimpíada como essa é um motivo de alegria sem igual. Parabéns!

Professor Carlos Henrique

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Quero agradecer todos os alunos do Colégio 8 de Maio que apoiaram nossos participantes e se sentiram representados por eles – pois sabiamente entenderam que não precisamos estar no campo para torcermos pelo nosso time; Dona Elaine, nossa coordenadora, por desde o princípio ter acreditado no potencial de nossos alunos; Dona Ângela, nossa diretora, por ter acompanhado cada uma das etapas, viabilizando aquilo que foi e será necessário para a participação das equipes; Fabíola, por ter cedido, inúmeras vezes, sua mesa de trabalho para discutirmos e realizarmos as atividades da Olimpíada; Tia Fran, pelas cópias das etapas – eu sei que muitas vezes ela passou nossas cópias na frente de suas tarefas; as pessoas que nos receberam no Kinkaku-ji, pela atenção e carinho com que nos ajudaram a realizar uma das etapas mais difíceis da Olimpíada; Professora Iraci, pelos contatos e apoio; os professores, que acompanharam e vibraram comigo na sala dos professores cada vez que passávamos para uma nova etapa; e, por fim, ao nosso mantenedor, Sr. Luiz Beraldo, por ter apostado na conduta ética de nossos alunos e propiciar a realização desse trabalho de conscientização com eles.
Sem vocês, nossos alunos não teriam chegado onde estão. OBRIGADO!