Será que toda a parafernália tecnológica que nos rodeia e toma conta de boa parte do nosso tempo, seja em tarefas produtivas, ou não, está nos tornando mais burros, menos críticos e mais alienados? Pergunta parecida a essa foi feita pelo jornalista Christian Carvalho Cruz, do jornal O Estado de S.Paulo, em matéria publicada no suplemento Aliás, dia 27 de setembro. Ele não nos dá a resposta, mas dá indícios de um mundo próximo onde o homem talvez evolua para uma nova fase da humanidade: “Homo sapiens que falam pelos polegares”. Afinal, segundo o seu texto, já existe gente faturando quantias gordas por ter vencido campeonato de quem digita um SMS – mensagens de celular ou, se preferir, torpedos – mais rápido. As justificativas para esse incentivo ao envio de SMS são muitas, desde o custo, que é menor do que uma ligação, até a “praticidade” de se comunicar em locais onde você deveria ficar em silêncio, atento ao que acontece diante de seus olhos – comprovei isso recentemente, quando fui ao teatro assistir uma peça que começava no escuro, no breu total, tendo como única fonte de luz a chama do isqueiro do ator, que acendia um cigarro. No fim da peça, em um bate-papo com o ator, ele se mostrou incomodado com a quantidade de luzes emanadas dos celulares que clareavam o rosto da plateia, prisioneira dos seus telefones. Bem, mas voltando à matéria do Estadão, quando eu a terminei de ler, lembrei de um estudo que foi realizado com jogadores de video game que passam horas apertando botõezinhos de joysticks e, por isso, estavam ficando com os polegares achatados; o que não deixa de ser uma mudança anatômica no processo evolutivo. Além disso, nossos pulmões também estão mais comprimidos, devido a posição em que teclamos, seja nos nossos celulares ou nos nossos teclados, ao conversar através do MSN. Segundo médicos, isso “bloqueia a expansão dos pulmões, afetando a respiração” e, como consequência, “priva o cérebro de oxigênio e pode acabar comprometendo a capacidade de memória e aprendizado”.
Resumindo, ouça seu pai quando ele pede para você desligar o computador, o video game ou reduzir o valor da conta do telefone celular; você está correndo o risco de prejudicar a memória ou a sua capacidade de aprendizado.
Mas será que estamos menos críticos e mais alienados por causa da tecnologia?
Realizei um exercício de imaginação com o 3º ano do Ensino Médio, onde perguntei a eles como reagiriam diante de um novo AI-5 (ato institucional nº 5, que, na época da ditadura militar, fechou o Congresso Nacional, censurou a imprensa, prendeu e torturou jovens opositores do regime político vigente). A maioria respondeu que, diante do chamado Milagre Econômico, ocorrido na época, talvez a geração atual não se importasse em fazer oposição ao governo, já que com acesso ao dinheiro, numa época em que o consumo é apregoado e encarado como requisito para ascensão, tudo estaria dentro dos conformes. Outros disseram que a internet seria um veículo de luta, manifestação etc., já que é possível publicar conteúdo em servidores fora do país. Que percepção, fiquei maravilhado! Exemplo dessa tese levantada pelos alunos é a repercussão dos textos publicados pela cubana Yoani Sánchez, no blog Geração Y, que, inclusive, teve alguns textos escolhidos e publicados num livro (De Cuba, Com Carinho) lançado aqui no Brasil pela Editora Contexto (leia o primeiro capítulo).
A história dessa escritora é interessante, a começar pelo nome. Yoani, com y, é resultado da forte influência soviética na ilha, já que a URSS participou do processo pós-revolucionário cubano, garantindo o regime de Fidel Castro, ameaçado pelos EUA. E, por causa dessa influência, que extrapola as relações políticas e econômicas, infiltrando-se na cultura, houve na ilha uma enxurrada de nomes com y. É por fazer parte dessa geração, desse momento histórico, que escolheu Geração Y para dar nome ao seu blog, onde publica, quase diariamente, textos que relatam sua insatisfação e frustração com o governo cubano, com as condições de vida em seu país, com o descaso e desrespeito internacional. O simples desejo de compartilhar essas inquietações tomou proporções gigantescas. Passou a ser lida pelo mundo todo; publicou em seu blog uma carta aberta ao presidente dos EUA, Barack Obama, e obteve resposta do próprio; como dito acima, publicou um livro aqui no Brasil – mas foi impedida de comparecer ao lançamento, já que desde o caso dos lutadores de boxe cubanos, que não quiseram voltar ao país, estão proibidas viagens para o exterior; organiza palestras para capacitar as pessoas a usarem o computador e, principalmente, a internet, explicando aos interessados como construir e postar textos em blogs. Mas, como era de se esperar, foi vítima de violência praticada por agentes do governo cubano, passou dias andando com o auxílio de muletas e, quando percebeu que era vigiada constantemente por delatores e homens do governo, passou a fotografá-los e publicar seus rostos em seu blog. Eis um exemplo de como a internet pode ser um espaço de resistência, conscientização e luta por direitos, contrariando a ideia de que a rede é mais um veículo alienante.
Também vale lembrar que não é só o cidadão comum que usa a chamada internet 2.0 – essa nova fase da rede onde é o usuário que gera o seu conteúdo (blogs, youtube, twitter, orkut, facebook etc.) – para fazer política. Os governos também a utilizam para reprimir, vigiar e punir os cidadãos que fazem oposição a eles. É o caso de países como a China, que contrata blogueiros – remunerando-os por textos publicados – para manipularem a opinião pública; o Egito, que prende blogueiros e usa os mesmos artifícios do governo chinês; a Rússia, que pretende criar uma Câmara dos Blogueiros, para decidir as normas da blogsfera e, por fim, o Irã, que procurou em páginas de relacionamento como orkut e facebook, fotos de manifestantes que faziam oposição aos governos do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Então, tentando responder a pergunta aí de cima, acho que depende. Podemos perceber a internet como um espaço de conscientização e união para muitas causas justas, assim como podemos ser vítimas da alienação gerada por governos ou por nós mesmos.
Abraços.
Resumindo, ouça seu pai quando ele pede para você desligar o computador, o video game ou reduzir o valor da conta do telefone celular; você está correndo o risco de prejudicar a memória ou a sua capacidade de aprendizado.
Mas será que estamos menos críticos e mais alienados por causa da tecnologia?
Realizei um exercício de imaginação com o 3º ano do Ensino Médio, onde perguntei a eles como reagiriam diante de um novo AI-5 (ato institucional nº 5, que, na época da ditadura militar, fechou o Congresso Nacional, censurou a imprensa, prendeu e torturou jovens opositores do regime político vigente). A maioria respondeu que, diante do chamado Milagre Econômico, ocorrido na época, talvez a geração atual não se importasse em fazer oposição ao governo, já que com acesso ao dinheiro, numa época em que o consumo é apregoado e encarado como requisito para ascensão, tudo estaria dentro dos conformes. Outros disseram que a internet seria um veículo de luta, manifestação etc., já que é possível publicar conteúdo em servidores fora do país. Que percepção, fiquei maravilhado! Exemplo dessa tese levantada pelos alunos é a repercussão dos textos publicados pela cubana Yoani Sánchez, no blog Geração Y, que, inclusive, teve alguns textos escolhidos e publicados num livro (De Cuba, Com Carinho) lançado aqui no Brasil pela Editora Contexto (leia o primeiro capítulo).
A história dessa escritora é interessante, a começar pelo nome. Yoani, com y, é resultado da forte influência soviética na ilha, já que a URSS participou do processo pós-revolucionário cubano, garantindo o regime de Fidel Castro, ameaçado pelos EUA. E, por causa dessa influência, que extrapola as relações políticas e econômicas, infiltrando-se na cultura, houve na ilha uma enxurrada de nomes com y. É por fazer parte dessa geração, desse momento histórico, que escolheu Geração Y para dar nome ao seu blog, onde publica, quase diariamente, textos que relatam sua insatisfação e frustração com o governo cubano, com as condições de vida em seu país, com o descaso e desrespeito internacional. O simples desejo de compartilhar essas inquietações tomou proporções gigantescas. Passou a ser lida pelo mundo todo; publicou em seu blog uma carta aberta ao presidente dos EUA, Barack Obama, e obteve resposta do próprio; como dito acima, publicou um livro aqui no Brasil – mas foi impedida de comparecer ao lançamento, já que desde o caso dos lutadores de boxe cubanos, que não quiseram voltar ao país, estão proibidas viagens para o exterior; organiza palestras para capacitar as pessoas a usarem o computador e, principalmente, a internet, explicando aos interessados como construir e postar textos em blogs. Mas, como era de se esperar, foi vítima de violência praticada por agentes do governo cubano, passou dias andando com o auxílio de muletas e, quando percebeu que era vigiada constantemente por delatores e homens do governo, passou a fotografá-los e publicar seus rostos em seu blog. Eis um exemplo de como a internet pode ser um espaço de resistência, conscientização e luta por direitos, contrariando a ideia de que a rede é mais um veículo alienante.
Também vale lembrar que não é só o cidadão comum que usa a chamada internet 2.0 – essa nova fase da rede onde é o usuário que gera o seu conteúdo (blogs, youtube, twitter, orkut, facebook etc.) – para fazer política. Os governos também a utilizam para reprimir, vigiar e punir os cidadãos que fazem oposição a eles. É o caso de países como a China, que contrata blogueiros – remunerando-os por textos publicados – para manipularem a opinião pública; o Egito, que prende blogueiros e usa os mesmos artifícios do governo chinês; a Rússia, que pretende criar uma Câmara dos Blogueiros, para decidir as normas da blogsfera e, por fim, o Irã, que procurou em páginas de relacionamento como orkut e facebook, fotos de manifestantes que faziam oposição aos governos do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Então, tentando responder a pergunta aí de cima, acho que depende. Podemos perceber a internet como um espaço de conscientização e união para muitas causas justas, assim como podemos ser vítimas da alienação gerada por governos ou por nós mesmos.
Abraços.