segunda-feira, 6 de julho de 2009

Leituras da História

Vivo batendo numa mesma tecla quando converso com vocês, alunos, sobre a importância de não se distanciar dos fatos históricos quando fazemos a leitura de um livro, estudamos para a prova ou vamos ao cinema assistir um filme.
A maneira como o fato histórico chega até nós é sempre confortável. Ler um livro e assistir um filme é sempre entretenimento, e deve continuar sendo, mas há a necessidade de recebermos uma informação considerando sua proporção. Não podemos perder a sensibilidade diante de um genocídio, de uma catástrofe ou de práticas tirânicas de um governo. Mas como fazer isso? Sugiro que seja dando rosto, nome e vida aos personagens da História. Claro que na sala de aula o tempo é curto e precisamos entender o funcionamento das estruturas políticas e sociais do período estudado. É por isso que o aprendizado da História só se completa fora da sala de aula – a tal da sétima aula. É nesse momento que você pode “conversar com os mortos”, com os homens que viveram o instante que você estudou em sala. Pra isso acontecer, você só precisa de duas coisas: curiosidade e vontade. Movido por essas duas palavras você será capaz de “ouvir esses mortos” e deixar de participar das aulas de História como se fosse a coisa mais natural do mundo, ouvir o seu professor dizer que “morreram aproximadamente 6 milhões de judeus durante o tempo em que o regime nazista atuou” ou que, “em menos de 30 dias o Estado de Israel comandou uma guerra que matou milhares de palestinos na Faixa de Gaza”. Isso faz com que você deixe de participar daquele grupo que acha o máximo os fuzilamentos, as torturas e as maldades que, infelizmente, andam movimentando a roda da História. Afinal, você vai conhecer essas pessoas, e é só conhecendo-as que vocês poderão entender suas dores e suas alegrias.

Se nessas férias você estiver com a vontade e curiosidade necessárias para conversar com esses personagens que dão vida à História, vou indicar dois livros que considero espetaculares. O primeiro é HIROSHIMA, escrito pelo jornalista John Hersey, e considerado uma das mais importantes reportagens do século XX.
A reportagem que virou livro foi encomendada pelo fundador da revista The New Yorker, Harold Ross, que queria um relato sobre “o que significava uma cidade ser atingida por uma bomba atômica”. O texto de Hersey, narrando o drama de seis sobreviventes da bomba um ano após o seu lançamento, ocupou uma edição inteira da revista e deu a devida proporção a um fato que, até então, nem mesmo os americanos haviam se dado conta. Além do texto original, o livro também traz os relatos das conseqüências da bomba na vida desses sobreviventes quarenta anos depois.

O outro livro eu considero um dos melhores que já li. Chama-se As boas mulheres da China, escrito pela, também jornalista, Xinran, que esteve, nesse mês, na Festa Literária de Paraty para o lançamento de seu novo livro. Xinran entrevistou mulheres chinesas de diferentes idades e condições sociais entre os anos de 1989 e 1997, tentando compreender a condição da mulher na China moderna. A jornalista descobriu que essas mulheres continuam a viver presas aos fantasmas da história de seu país. Esse livro é obrigatório. Além de bem escrito, não traz aquela revolta que acomete as feministas.
[esse livro pode ser encontrado em versão de bolso e a preço acessível, semelhante ao valor de uma revista]

Abraços.

2 comentários:

Camilla Wootton Villela disse...

Aprendi a gostar mais de História com você, professor. Me mostrou que não é só aquele decoreba estúpido para fazer prova. É livro, música, Sétima Aula. Nunca tinha tido um professor antes que indicava livro no cantinho da lousa. Lembro que você me falou desse livro, "As boas mulheres da China". Dei uma xeretada na época.
Li seu post de baixo e fiquei sem reação. O Thobias tinha comentando alguma coisa do tipo amigo mas... Seis toneladas? Que coisa maravilhosa, Carlos! Não quero falar aquele monte de coisa que possa parecer falsidade, mas fiquei feliz de verdade. Uma lição para mim, pessimista de carteirinha. Parabéns pela inciativa, molecada!
Agora de férias, tentarei voltar com mais frequência ao Sétima Aula :)

Muitos beijos,

Carlos Assis disse...

Oi, Camilla.

Obrigado. Fico feliz em saber que contribuí para desmistificar um pouco o bicho papão da História, rs.

Você viu? O pessoal do colégio está colocando em prática muitos dos valores que precisamos resgatar.

Abração.