domingo, 2 de agosto de 2009

Derrota Napoleônica 2.0

Em nota publicada hoje no jornal O Estado de S.Paulo [e transcrita abaixo, na íntegra], o autor Stephan Talty, depois de pesquisas realizadas desde 2001, concluiu que a derrota do exército liderado por Napoleão, na Rússia, em 1812, teve como principal causa o tifo; e não o frio, a longa marcha até o território que pretendiam conquistar ou a estratégia dos russos.

Napoleão foi vencido pelo tifo
(publicado hoje, 2 de agosto, no jornal O Estado de S.Paulo)

Derrota na Rússia tem nova versão

O destino do Grande Exército napoleônico estava selado muito antes de o primeiro tiro ser disparado. É o que sugere Stephan Talty, autor americano que reconstrói a história médica da fracassada campanha de Napoleão na Rússia em seu livro The Illustrious Dead - The Terrifying Story Of How Typhus Killed Napoleon ("Mortos ilustres - A História de Como o Tifo matou Napoleão").

Na primavera de 1812, mais de 600 mil homens saíram em marcha para a Rússia - mais do que a população de Paris na época. O imenso Exército pretendia depôr o czar russo Alexandre I, mas muito antes do início dos combates alguns soldados cambaleavam para fora das fileiras e desabaram na lateral da estrada. Estariam bêbados? Dado o número de soldados, ninguém se importou muito com alguns bêbados. Somente agora, 200 anos depois, foi esclarecido que as primeiras baixas da grande marcha de Napoleão não eram de alcoólatras.

Talty documenta cuidadosamente o motivo que impediu 400 mil homens de voltarem para casa, ilustrando, como poucos historiadores fizeram antes, o papel crucial desempenhado por um inimigo minúsculo: o piolho.

No fim, a espinha do Exército não foi partida pelos cossacos, nem pelo inclemente inverno, e sim pelo typhus exanthematicus, espalhado por parasitas. Foi esta a conclusão de uma investigação iniciada em 2001, após a descoberta de uma vala comum em Vilnius, Lituânia, com 2 mil corpos.

No início, os escavadores imaginaram que se tratasse de vítimas da KGB ou de judeus assassinados pelos nazistas. Mas o exame de cintos e botões de farda com números de regimentos mostrou que os mortos eram soldados do Grande Exército de Napoleão.

Análises laboratoriais posteriores revelaram que muitos dos corpos apresentavam sintomas consistentes com aquilo que era conhecido na época como "Peste da Guerra".

Apenas na primeira semana da campanha, 6 mil homens adoeciam por dia, ficando fora de combate, registrou na época o médico J. L. R. de Kerckhove. "Napoleão não está preocupado com a quantidade de soldados que desaba na beira da estrada", disse em carta à mulher o comandante de batalhão Friedrich Wilhelm von Lossberg.

Nos hospitais de campanha, os gravemente enfermos eram alojados junto aos que ainda estavam relativamente bem, garantindo que as vítimas mais recentes não se recuperassem. Hoje, a infecção é facilmente tratada com antibióticos, mas os médicos daquela época não conheciam remédio eficaz para a doença. Quando o Exército de Napoleão chegou a Moscou, seus soldados, enfraquecidos, não tiveram condições de conquistar a cidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tifo é comum nas guerras pela falta de higiêne e escassez de água. Estava vendo também, que os sintomas ficam evidentes dentro de 12 dias.
Agora deixar os que estavam doentes com os que melhoravam, é algo que definitivamente não funciona.
Hoje, além do antibiótico, há uma vacina. Só que ela não é tão usada.
Professor, é naquela época que eles usavam peruca por causa dos piolhos?

Carlos Assis disse...

Oi, Bia.

As perucas não eram, necessariamente, usadas por causa de problemas desse tipo. No século XVII e XVIII elas se transformaram em um acessório. Os nobres desfilavam com perucas caríssimas para demonstrar status.
Para se ter idéia, a profissão de peruqueiro era muito bem remunerada. Quanto melhor e mais cara, mais prestígio teria quem a usasse.
Mas mesmo na antiguidade já se usava peruca. Os egipcios tinham grandes peruqueiros, rs. Além de proteger do sol e dar status, elas cobriam a calvície.
Claro que existem casos clássicos do uso delas por causa de infestação de piolhos. Por exemplo: Quando a corte portuguesa se transferiu para o Brasil, as mulheres, por causa das más condições de higiene, pegaram piolho, o que proporcionou um desfile de perucas no convés dos navios...rs.

Abraços e até amanhã.